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quinta-feira, 15 de maio de 2014

CrossActing

Certo, você se vestiu, maquiou, arrumou a peruca e está tinindo. Conferindo no espelho, você vê uma gata e não mais aquele cara que você ta acostumada a ver la dentro. Você começa com algumas poses, se seu espelho estiver numa parede longe, treina alguns passos, provavelmente vai colocar as mãos na cintura e vai rebolar um pouco. Algumas falas ensaiadas vão vir a seguir, tipo a versão delicada do “Ta falando comigo” do Taxi Driver… Mas e aí, o que vem a seguir?

Se você ja for uma Cross emancipada, vai para a rua, algumas se contentam com um simples passeio no quarteirão, dentro o carro… as mais ousadas vão andando. Outras querem ir a um bar, uma boate, onde poderá se “mostrar” um pouquinho…Tanto tempo de produção e tanto capricho merecem ser apreciados. Festas e encontros com outras CDs é uma ótima opção.





Cresci me vestindo de mulher sempre que tinha chance. Meu palco era o banheiro da minha mãe, pegava as peças que queria, me trancava la dentro e fazia poses, caras e bocas. Logo comecei a abrir a porta do banheiro e caminhava até o quarto, onde me admirava no espelho sessenta polegadas que ela tinha na frente da cama. O tamanho do espelho era um atrativo, mas o que eu gostava era de me expor, de sair da segurança do banheiro e ficar vulnerável. O quarto dela era o primeiro ambiente do mundo “real” que eu entrava como mulher. 

Falo por mim, mas não me parece que a gente se monta só pra gente. Alguém precisa nos ver, é preciso poder entrar no mundo com nossa versão mulher. Eu preciso poder interagir com outras pessoas para ser a Jessica. Montagem solitárias, são boas para experimentar roupas, também podem dar sessões de fotos e ensaios bem bacanas, mas a novo passo dado de salto alto, os passos anteriores parecem não ser mais suficientes. 

Ao entrar nesse mundo com a lente cor de rosa que as roupas nos proporcionam, há um mundo de novas possibilidades a serem exploradas. Passamos a experimentar o mundo de um novo modo. Quando realmente estou de Jésssica, eu ajo diferente, tudo é mais delicado, e tenho chance de transformar coisas rotineiras e habituais em ações novas e interessantes. Ha alguns dias convidei uma amiga para jantar na minha casa. Preparei a mesa, ajustei a iluminação, escolhi os discos… tudo com um toque feminino aguçado. Nunca tinha feito isso como mulher. Concluí que ser Jéssica é um estado de espírito que extrapolam as roupas. Os vestidos, maquiagem e salto alto são ferramentas para me levar a esse estado feminino. 

Acabei entendo que é isso que sempre procurei, não é uma questão de usar as roupas femininas. Para mim as roupas são um meio e não um fim. É o toque suave da meia calça, a postura imposta pelo salto alto, a pressão do corpete na minha cintura, a leveza do vestido balançando ao me movimentar… enfim, cada peça é um meio capaz de me fazer sentir o feminino e facilita agir como Jessica. Talvez além do CrossDresser, exista mais uma experiência: o CrossActing.




2 comentários:

  1. Muito bom, Jessica. As CD´s costumam sedimentar suas conquistas e a cada nova aventura o ponto de partida é o último feito realizado. Para aquelas que tem algo a perder no caso de uma revelação, esse é o momento de estabelecer os limites e respeitá-los. Bjs

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  2. Parabéns Jessica ^^ ... esse texto demonstra nosso íntimo, o que nos impulsiona, o que nos completa e o que sentimos... que vai desde a sensação de estar vestida, quanto nossos simples "desafios", que são o de sair "das quatro paredes" se expor um pouquinho...
    Com certeza, as vestimentas complementam nossas sensações, tais como chave e fechadura... e você resume bem as palavras que fazem essa união: CrossDresser e CrossActing.

    Obrigada por expor esse seu talento de escrever...

    Beijos...

    Sttefanne Camp Saint Vincent

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