Tootsie - Quando assisti o Oscar numa noite da década de 80 descobri que um dos atores tinha sido indicado ao prêmio por ter interpretado uma mulher - ou melhor: um homem que se vestia de mulher. Era tanto elogio a Dustin Hoffman e tanto respeito pelo trabalho do ator que me deu confiança suficiente para saber que poderia haver "dignidade" naquele meu interesse por vestidos. Fiquei em choque e foi difícil esconder meu interesse por um filme que não era o tipo de filme que eu costumava assistir. Sempre que ia alugar algum filme de ação, perguntava na locadora quando Tootsie chegaria às prateleiras. Demorou, acabei assistindo na TV. Gravei e re-assistia sempre que podia, principalmente a primeira cena de transformação.
Quanto mais quente melhor -No início da era do DVD descobri um filme clássico que me aproximou do mundo crossdresser de duas maneiras: O crossdresser é mostrado de uma maneira leve, divertida e com humor. O personagem vestisdo de mulher, contracena com a expressão máxima do feminino (pelo menos pra mim): Marilyn Monroe. Estava no final da adolescência e percebi ali que além de gostar de usar vestidos e salto alto, se eu pudesse fazer isso na frente de uma mulher real aquilo me deixaria mais satisfeito. Demorou pra isso acontecer, mas foi graças a "Quanto mais quente melhor" que eu percebi que a linha que separa desejar "ser" ou "ter" a mulher atraente é bem tênue. Exatamente o que Richard Novic diz no livro Alice in the Genderland. Marlyn feminina como nunca, contracenando com um homem totalmente vestido é ao mesmo prazeroso e desconcertante.
Priscilla a Rainha do Deserto - No início da década de 90 a cultura clubber bombava e as Drags começavam a aparecer no Brasil. Graças à Priscilla as Drags Queens se multiplicaram, abrindo caminho para minha vontade de sair vestido de mulher nas ruas. A irreverência dos personagens do filme me ajudaram a construir a segurança que eu precisava para começar a me definir como Jéssica. Eu queria sair vestido de mulher. Já estava na faculdade e me vestir escondido não era suficiente, Drags nas baladas GLS me deixaram a vontade para sair pela primeira vez completamente "vestido".
Para Wong Foo - Logo depois de Priscilla, Para Wong Foo estreou. Foi difícil justificar para minha namorada na época por que eu queria ver aquele filme que parecia uma cópia barata do "Priscilla". Realmente o filme não é lá aquelas coisas, mas a delicadeza das "meninas" do filme me ajudaram bastante, eu realmente nunca consegui ser tão "show off" como as meninas australianas. Se eu sou delicada e contida... Patrick Swayze me ajudou.
Ed Wood - Nesse caso foi minha namorada que insistiu para ver Jhonny Depp, não sou muito fã de filmes B. Mas Ed Wood tem um dos melhores diálogos sobre o tema: - "Eu adoro vestir roupas de mulher, calcinhas, blusas, sutiãs... é algo que eu faço!" A garota intrigada perguntava: "Você não gosta de sexo com garotas?" e ele respondia sorrindo - "Eu adoro sexo com garotas, usar roupas de mulher fazem me sentir mais perto delas!" Não tinha jeito melhor de explicar. Anos depois foi exatamente com esse diálogo que abri o jogo para a Laura Wood... Ops será que o sobrenome dela tem alguma coisa com o filme?
My Life in Pink - Esse foi o único filme que eu assisti depois de ter lido um bocado sobre o tema na internet. Mesmo assim, foi uma das mais intensas experiências cinematográficas. Nesse filme o tema é a questão do gênero na infância. Fiquei bastante mexida em ver situações semelhantes as que eu havia passado e escondido atrás da peruca em alguma parte da minha cabeça. De longe é o filme mais poético desses todos, é difícil de encontrar, mas vale a pena.
Bem, hoje tudo é diferente. O tema está debatido online ao alcance de todo(a)s. Mas com tanta informação descabida sobre crossdressers espalhadas em um monte de sites e bloggs "sem noção" (inclusive esse). Dar uma corridinha ao torrent vai ajudar bastante. Bom programa.