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quarta-feira, 30 de abril de 2014

Meus filmes Crossdressers

Não foi fácil crescer crossdresser numa era pré-internet. Se qualquer menino que quer se vestir de menina tem suas confusões, imagine passar pela infância/adolescência sem poder se informar sobre essa vontade misteriosa. Eu nunca me abri com ninguém, me vestia escondido sempre que tinha chance de usar as roupas da minha mãe. Não tinha a menor idéia do por que eu gostava tanto de usar aqueles vestidos, meias calça, colans... A primeira vez que eu vi um homem vestido de mulher foi no cinema, ao mesmo tempo que fiquei maravilhado com a idéia de que aquilo não era tão fora do comum, minha curiosidade aguçou. Cada filme me apontava um novo caminho, me dava uma nova idéia ou me dava segurança para seguir meu caminho.

Tootsie - Quando assisti o Oscar numa noite da década de 80 descobri que um dos atores tinha sido indicado ao prêmio por ter interpretado uma mulher - ou melhor: um homem que se vestia de mulher. Era tanto elogio a Dustin Hoffman e tanto respeito pelo trabalho do ator que me deu confiança suficiente para saber que poderia haver "dignidade" naquele meu interesse por vestidos. Fiquei em choque e foi difícil esconder meu interesse por um filme que não era o tipo de filme que eu costumava assistir. Sempre que ia alugar algum filme de ação, perguntava na locadora quando Tootsie chegaria às prateleiras. Demorou, acabei assistindo na TV. Gravei e re-assistia sempre que podia, principalmente a primeira cena de transformação.


Quanto mais quente melhor -No início da era do DVD descobri um filme clássico que me aproximou do mundo crossdresser de duas maneiras: O crossdresser é mostrado de uma maneira leve, divertida e com humor. O personagem vestisdo de mulher, contracena com a expressão máxima do feminino (pelo menos pra mim): Marilyn Monroe. Estava no final da adolescência e percebi ali que além de gostar de usar vestidos e salto alto, se eu pudesse fazer isso na frente de uma mulher real aquilo me deixaria mais satisfeito. Demorou pra isso acontecer, mas foi graças a "Quanto mais quente melhor" que eu percebi que a linha que separa desejar "ser" ou "ter" a mulher atraente é bem tênue. Exatamente o que  Richard Novic diz no livro Alice in the Genderland. Marlyn feminina como nunca, contracenando com um homem totalmente vestido é ao mesmo prazeroso e desconcertante.



Priscilla a Rainha do Deserto - No início da década de 90 a cultura clubber bombava e as Drags começavam a aparecer no Brasil. Graças à Priscilla as Drags Queens se multiplicaram,  abrindo caminho para minha vontade de sair vestido de mulher nas ruas. A irreverência dos personagens do filme me ajudaram a construir a segurança que eu precisava para começar a me definir como Jéssica. Eu queria sair vestido de mulher. Já estava na faculdade e me vestir escondido não era suficiente, Drags nas baladas GLS me deixaram a vontade para sair pela primeira vez completamente "vestido".


Para Wong Foo - Logo depois de Priscilla, Para Wong Foo estreou. Foi difícil justificar para minha namorada na época por que eu queria ver aquele filme que parecia uma cópia barata do "Priscilla".  Realmente o filme não é lá aquelas coisas, mas a delicadeza das "meninas" do filme me ajudaram bastante, eu realmente nunca consegui ser tão "show off" como as meninas australianas. Se eu sou delicada e contida... Patrick Swayze me ajudou.





Ed Wood - Nesse caso foi minha namorada que insistiu para ver Jhonny Depp, não sou muito fã de filmes B. Mas Ed Wood tem um dos melhores diálogos sobre o tema: - "Eu adoro vestir roupas de mulher, calcinhas, blusas, sutiãs... é algo que eu faço!" A garota intrigada perguntava: "Você não gosta de sexo com garotas?" e ele respondia sorrindo - "Eu adoro sexo com garotas, usar roupas de mulher fazem me sentir mais perto delas!" Não tinha jeito melhor de explicar. Anos depois foi exatamente com esse diálogo que abri o jogo para a Laura Wood... Ops será que o sobrenome dela tem alguma coisa com o filme?



My Life in Pink - Esse foi o único filme que eu assisti depois de ter lido um bocado sobre o tema na internet. Mesmo assim,  foi uma das mais intensas experiências cinematográficas. Nesse filme o tema é a questão do gênero na infância. Fiquei bastante mexida em ver situações semelhantes as que eu havia passado e escondido atrás da peruca em alguma parte da minha cabeça. De longe é o filme mais poético desses todos, é difícil de encontrar, mas vale a pena.


Bem, hoje tudo é diferente. O tema está debatido online ao alcance de todo(a)s. Mas com tanta informação descabida sobre crossdressers espalhadas em um monte de sites e bloggs "sem noção" (inclusive esse). Dar uma corridinha ao torrent vai ajudar bastante. Bom programa.




sábado, 26 de abril de 2014

Meu namorado é (também) uma crossdresser.

Laura Wood

“Quando você me contou que também gostava de menina, já imaginei que ia dar certo”. Foi a última frase que ele disse ao me contar que era uma crossdresser. No início, confesso que a surpresa foi tão grande que nem entendi direito, ele precisou repetir e me explicar como se eu nunca tivesse ouvido falar: “Sabe o Laerte? Então...” Nós dois sabíamos que aquela conversa mudaria nossa relação para sempre. E de fato mudou.
Eu achei tão inusitado e divertido que durante uns dois ou três dias me pegava rindo sozinha, recordando a revelação e imaginando como seria a versão feminina daquele cara tão viril, com pelos, que me satisfazia na cama como ninguém até ali. Mais do que o estranhamento, entretanto, o motivo das risadas era a alegria de perceber o quanto aquele relacionamento já era profundo o suficiente para que ele me confiasse algo tão íntimo. Um outro tipo de laço se estabeleceu entre nós quando eu soube da existência da Jessica.
Daí para frente, fui invadida por uma curiosidade gostosa, como a da criança que vai percebendo que o mundo é muito mais que a casa onde vive. E ia surgindo uma pergunta atrás da outra: “Como ela é, como se veste?”; “Ela frequenta festas, tem amigas?”; “Como você se monta? Tem foto?”. Assim, a cada pergunta respondida, a porção mulher do homem por quem eu estava apaixonada ia tomando vida também dentro de mim e eu ia me preparando para um dia conhecê-la em carne e osso. E a postura dele ao me explicar tudo com tranquilidade e leveza contribuía muito para que o medo fosse tomando a medida que se tem frente a uma novidade.
É claro que essa expectativa não era só excitação, havia algum receio – em nós dois – se a experiência não diminuiria o desejo que eu sentia por ele, se não enfraqueceria sua imagem como homem. Intimamente eu sabia que não sentia tanta atração por mulheres como ele imaginava, a verdade é que não era indiferente a elas e tinha algum desejo, mas nada que se comparasse ao que sentia pelos homens. Até ali, todas as (pouquíssimas) vezes que estivera com meninas, eu vivera uma aventura, mas desta vez eu conheceria a mulher que vivia dentro do homem que eu amava. E muito.
Estávamos dispostos, no entanto, a deixar a insegurança de lado e confiar no amor que sentíamos um pelo outro. Da minha parte, sempre entendi que aquilo nada tinha a ver comigo: vestir-se de mulher, construir – e manter viva – uma persona feminina era uma demanda dele, muito antes de me conhecer e se apaixonar por mim. Por que isso afetaria nossa relação?
A primeira coisa que vi foram fotos de uma Jessica sexy e delicada, que posava na frente do espelho e parecia orgulhosa do resultado. A meia-calça rendada, o salto alto, a boca pintada de vermelho e o olhar vivo, sexy, me faziam sentir cada vez mais atraída por aquela mulher que também poderia ser minha.
Poderia. Eu ainda precisaria conquistá-la.

quinta-feira, 24 de abril de 2014

Catálogo para Transgêneros

Na tentativa obsessiva, em que tudo é catalogável, ninguém escapa de uma rotulação aqui ou ali. Eu não gosto de me definir. Mas dentro da categoria “homens que se vestem de mulher” acho que a gente pode tentar fazer umas distinções. Eu vejo uma linha contínua entre cada um desses tipos. Eu mesmo ja percorri parte dessa trilha. Posicionei de forma crescente, como os tipos vão evoluindo, partindo de um desejo por certas peças de roupa até a a transformação plena para o corpo mulher. Cada um dos tipos pode ser uma prática isolada ou ser uma etapa de um caminho que será percorrido progressivamente pelo “transformer”. Pouquíssimos transgêneros percorrem todo essa percurso, em geral cada pessoa chega a um nível e se estabilizam por ali, permanecendo desse jeito por toda a vida.  Me baseei nas pessoas que conheci e em como eu vivo minha relação com o gênero, separei 6 graus crescentes - ah, como sou fina ! - se você está ou esteve em uma dessas etapas, me conta e me ajuda a fazer essa Crossdressipedia!

Atenção, isso aqui não é nenhum estudo científico, é só um apanhado de informações que fui colhendo nessa minha vida de peruca e salto alto.



1 - UnderDressers A porta de entrada para esse universo rosa é o underDresser. O homem desenvolve uma atração por peças de roupas femininas, e começa vestindo escondido. O próximo passo é usar essa peças por baixo da roupa - Hmmm eu me lembro quando fui a faculdade usando uma calcinha de seda. A sensação de transgressão e de sentir o toque da lingerie por baixo da roupa de homem provoca um bem estar indescritível. Usar calcinhas, sutiãs, meias calça dentre quatro paredes também faz parte das práticas do underdresser. Muitos homens se satisfazem plenamente assim, mas para uma grande parcela, usar só essas peças não é mais suficiente.






2 - FullDressers - Quando vestir só algumas partes não é suficiente para o prazer, o homem passa a tentar completar o figurino. Vestidos e sapatos de salto se juntam a “montagem” para performances solitárias ou no máximo com o parceiro dentre quatro paredes. Seções de fotos, auto exibicionismo, masturbação ou tudo isso junto caracterizam o FullCrosser. A caracterização ainda não é total, não há perucas e maquiagem, mas é nessa etapa que uma persona feminina começa a florescer. O gestual, a voz e os desejos de mulher começam a se definir.




3 - CrossDressers - A CrossDresser ja tem peruca (ou um penteado que usa o cabelo da sua versão masculina), tem um book com suas fotos, nome e geralmente uma conta no twitter, facebook, gmail… quando cheguei a essa etapa era Orkut - pistas da idade, credo! A crossdresser já cruzou totalmente os padrões da vestimenta de gênero, o make já é mais elaborado, a peruca completa o visual. O gestual e a voz compõem o visual: nasce uma persona feminina. Após a “montagem”, falas para o espelho, breves desfiles de salto alto dentro do quarto, poses para fotos e encenações vão dando vazão a essa mulher. Nem toda Cross afina a voz ou se movimenta com maneirismos - a atitude feminina pode variar de CD para CD. Totalmente vestida, ela já está pronta para interagir e sair em público, mesmo assim muitas continuam a expressar seu lado mulher em casa ou em círculos reservados.





4 - Drag Queens - As Drags geralmente são homens gays que se transformam em mulheres de arrasar. Geralmente se vestem pros shows, e “quebram tudo”. Dublam, fazem imitações, contam piadas… As drags são um tipo de personagem caricato. Na maioria das vezes a versão feminina é mais marcante do que a versão masculina do sujeito. A intenção não é fingir ser mulher, é uma homenagem cheio de exageros e estilizações, que criam figuras fortes, debochadas, mas sem deixar de ser atraentes e muito femininas… O feminino é reinterpretado.









5 - Travestis - Quando “se montar” e expressar  seu lado feminino em momentos específicos não é mais o bastante, a alternativa é passar mais tempo como mulher. Todo travesti foi crossdresser um dia, mesmo que por muito pouco tempo, ou durante uma idade muito jovem. Depois da decisão de se “transformar em mulher”, os travestis transformam seus corpos. Plásticas, próteses, depilações definitivas, hormonização… tudo isso é usado para a transformação permanente. Um travesti vive 100% do seu dia a dia como mulher, mesmo assim nem todos eles dizem sentirem-se mulheres presos em corpos de homens. A maioria convive com bem com o que ainda reservam de seus lados masculinos. Por isso mesmo, na sexualidade os travestis podem executar papeis ativos, muitas vezes é essa “performance” que é procurada pelos seus parceiros homens.















6 - Transexuais - O último passo da evolução do “processo” de feminização. A transformação total do corpo do homem no de uma mulher, recriando totalmente o seu corpo, corrigindo qualquer característica masculina. O órgão sexual é refeito e uma vagina é construída. Os transexuais sentem-se mulheres nos corpos errados. A dicotomia entre mente feminina e corpo masculino as agride a cada conferida no espelho. A relação deles com os órgãos sexuais masculinas é de repulsa e o sofrimento, justifica a operação que conclui a transformação. 

agradeço o sempre genial Laerte, de quem emprestei as tiras para ilustrar esse texto quadrado.  








terça-feira, 22 de abril de 2014

Eu me rendo, criei um blog! Queimei minha lingua. Confesso que sempre vi com um certo deboche blogs de crossdressers e travestis. Me parecia só mais uma atitude vaidosa-digital da era do "celebrety feelings" em que somos nossos paparazi. Não quero dizer que eu não adore me exibir, mas meu sempre preferi me expor nas pistas de danças e nos balcões dos bares. Mas em baladas não tenho muita chance de falar o que penso... principalmente sobre minhas reflexões sobre minha condição de gênero.

O debate a cerca das questões de gênero ganhou mais evidência, mas ainda estamos anos luz das conquistas em relação a sexualidade. Confundimos a conquista parcial da aceitação social do homossexualismo com a aceitação dos transgêneros. Talvez antes de sermos aceitos precisamos nos entender. Não é fácil. Cada crossdresser é diferente. Nenhuma de nós sabe exatamente o motivo pra se vestir de mulher. Tenho me perguntado isso de todas as formas, procurando respostas em relatos, livros... me analisando, só ainda não apelei para um pai de santo, mas uma amiga minha me garante que isso é um encosto. Hahaha... um encosto de muito bom gosto, se esse for o caso.

Cheguei a algumas respostas. Não me sinto uma mulher no corpo de um homem, como muitos transexuais se definem. Também não me produzo desse jeito para aceitar uma possível bissexulaidade... Não tenho nenhuma vontade de ser mais mulher do que tenho sido nas noites de sexta e sábado... Mas Muitas perguntas e apenas uma resposta: me sinto bem quando coloco um vestido!
Aqui começa meu "molesquine" digital. Não escrevo para ninguém ler, por isso, melhor não levar muito a sério o que vão ler. Não me sigam, também estou perdida, mas estou a-man-do tentar me encontrar!



Jessica Hula