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sábado, 26 de abril de 2014

Meu namorado é (também) uma crossdresser.

Laura Wood

“Quando você me contou que também gostava de menina, já imaginei que ia dar certo”. Foi a última frase que ele disse ao me contar que era uma crossdresser. No início, confesso que a surpresa foi tão grande que nem entendi direito, ele precisou repetir e me explicar como se eu nunca tivesse ouvido falar: “Sabe o Laerte? Então...” Nós dois sabíamos que aquela conversa mudaria nossa relação para sempre. E de fato mudou.
Eu achei tão inusitado e divertido que durante uns dois ou três dias me pegava rindo sozinha, recordando a revelação e imaginando como seria a versão feminina daquele cara tão viril, com pelos, que me satisfazia na cama como ninguém até ali. Mais do que o estranhamento, entretanto, o motivo das risadas era a alegria de perceber o quanto aquele relacionamento já era profundo o suficiente para que ele me confiasse algo tão íntimo. Um outro tipo de laço se estabeleceu entre nós quando eu soube da existência da Jessica.
Daí para frente, fui invadida por uma curiosidade gostosa, como a da criança que vai percebendo que o mundo é muito mais que a casa onde vive. E ia surgindo uma pergunta atrás da outra: “Como ela é, como se veste?”; “Ela frequenta festas, tem amigas?”; “Como você se monta? Tem foto?”. Assim, a cada pergunta respondida, a porção mulher do homem por quem eu estava apaixonada ia tomando vida também dentro de mim e eu ia me preparando para um dia conhecê-la em carne e osso. E a postura dele ao me explicar tudo com tranquilidade e leveza contribuía muito para que o medo fosse tomando a medida que se tem frente a uma novidade.
É claro que essa expectativa não era só excitação, havia algum receio – em nós dois – se a experiência não diminuiria o desejo que eu sentia por ele, se não enfraqueceria sua imagem como homem. Intimamente eu sabia que não sentia tanta atração por mulheres como ele imaginava, a verdade é que não era indiferente a elas e tinha algum desejo, mas nada que se comparasse ao que sentia pelos homens. Até ali, todas as (pouquíssimas) vezes que estivera com meninas, eu vivera uma aventura, mas desta vez eu conheceria a mulher que vivia dentro do homem que eu amava. E muito.
Estávamos dispostos, no entanto, a deixar a insegurança de lado e confiar no amor que sentíamos um pelo outro. Da minha parte, sempre entendi que aquilo nada tinha a ver comigo: vestir-se de mulher, construir – e manter viva – uma persona feminina era uma demanda dele, muito antes de me conhecer e se apaixonar por mim. Por que isso afetaria nossa relação?
A primeira coisa que vi foram fotos de uma Jessica sexy e delicada, que posava na frente do espelho e parecia orgulhosa do resultado. A meia-calça rendada, o salto alto, a boca pintada de vermelho e o olhar vivo, sexy, me faziam sentir cada vez mais atraída por aquela mulher que também poderia ser minha.
Poderia. Eu ainda precisaria conquistá-la.

2 comentários:

  1. Parabéns Laura ^^...
    Muitas das vezes, para quem é cross, é raro ver e ouvir a versão "do outro lado", de namoradas, esposas, ou mesmo amigas, em relação ao nosso Crossdressing...
    Com certeza, muitas companheira se sentiriam menos sozinhas e mais compreendidas caso tivessem acesso a este seu relato... e que por menor que fosse, sentissem um pouquinho de curiosidade sobre nosso "lado feminino"... pois, parte dessa curiosidade, se transformaria em amor...

    Parabéns a você e a Jéssica...

    Beijos...

    Sttefanne Camp Saint Vincent

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  2. Bom encontrar você por aqui também, Sttefanne! Obrigada pelas palavras!

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