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terça-feira, 22 de julho de 2014

SAPOS SALVEM-NOS!


Para quem é crossdresser e vive entre uma vida dividida em dois lados, relato aqui uma situação que me provocou muita reflexão sobre importância do nosso lado sapo.

Ontem na minha identidade secreta anfíbia, estive em um (not so) happy hour, com colegas de escritório de um amigo. A cena toda já beirava o insuportável pelos diálogos senso comum e as piadas infames. Estava prestes a me levantar para retirar educadamente do recinto, quando uma das mulheres à bordo começou a narrar uma história de uma amiga: ex-mulher de um crossdresser. Obviamete, desisti de ir embora, mas fingindo desinteresse pela história, fui observando o desenrolar da narração verificando as reações do público.

O assunto deu ibope, e logo unificou 3 núcleos de conversa daquela mesa com 9 pessoas. A narradora ficou animada e passou a acrescentar comentários irônicos ao fim de cada trecho, a mesa inteira ria a exaustão. - OK, toda mesa de "happy Hour" já um pouco calibrada com destilados misturados com fermentados ri à exaustão de qualquer assunto que foge do convencional - mas ali, passava um pouco da média.

A história era comum para quem conhece nosso mundo: a mulher foi casada por quase 11 anos com o marido cross, sabia dos hábitos ""depravados"" do marido. Tinham um casamento aparentemente feliz com dois filhos. Não houve detalhes sobre os motivos da separação, mas pelo visto deve ter sido de comum acordo e ambos estão em novos casamentos heterossexuais.

Como no enredo nada foge do que sabemos, melhor tentar replicar alguns trechos da conversa, com seus respectivos comentários.

- A NOME DA AMIGA era casada normal (seja lá o que isso queira dizer)... Mas o cara era crossdresser, sabe? Tipo aquele desenhista lá, o Laerte. Com essa introdução a história ficou popular e ganhou todos os ouvintes. Fiquei feliz ao ver que ao abordarem o Laerte, um dos ouvintes quase criou um novo núcleo de conversa ao começar a relembrar o quanto gostava de "Piratas do Tietê" na adolescência.  Há esperança no mundo! Mas a conversa sobre quadrinhos não vingou, o inusitado caso do homem que se veste de mulher continuou como único tópico.

- Quando a NOME DA AMIGA me contou eu não acreditei e não segurei o riso, ele era o maior gordão, fala sério! Imagina ele vestido de mulher. - O irônico aqui é que a narradora era uma simpática mulher de 38 anos, que ja passou dos 100 kilos ha muitas porções de batata fritas.
- Ele devia alargar todas as calcinhas da esposa. Não, queridinho, ele devia ter as próprias calcinhas...
- Olha que doente, imagina. Querer se vestir de mulher? Recuso a me pronunciar sobre esse último comentário.

- Imagina que inferno que a NOME DA AMIGA teve que aguentar... casada por 11 anos com esse depravado. - Claro! Ele prendeu a esposa por 11 anos, ela vivia trancafiada! Será que não é obvio que deveria existir motivos para fazer a mulher permanecer no casamento?
- Ela sofreu demais, coitada! Que humilhação Disse uma outra mulher presente.
- Ela me disse que morria de vergonha de sair na rua com ele, por que ela ja imaginava ele vestido de mulher! Continuou a narradora, sem se dar conta que da estupidez da reclamação da amiga. Ela se referia a algo íntimo do seu marido, que aparentemente era guardado e não fazia parte da vida social dele... não faz o menor sentido a esposa sentir vergonha em público dessa questão privada e exclusiva do marido. A coisa continuou.

- Mas ele era infiel? - Perguntou uma das mulheres.
- Que pergunta? Claro, ele se vestia para dar a bunda! - Respondeu o cara que até ali tinha parecido ser o mais sensato, ao comentar as HQ's do Laerte.
- Nada... maior enristada! Parece que o cara só se vestia em casa. - Disse a narradora.
- Eu preferia ser a maior chifruda do que ter um homem que usasse roupas de mulher! - Concluiu a mesma mulher.

E assim foi.

Juro que ensaiei intervir por mais de uma vez, queria comentar, argumentar, tirar aquela descrição caricata. Não conseguia, toda a mesa ria descontrolamente sem espaço para comentários não irônicos... Talvez o fato d'eu ser o amigo de fora tenha me inibido um pouco, mas eu não via como intervir. Mas de repente me vi rindo junto com eles, talvez para me camuflar na barbárie. Me senti muito mal, traído... e acabei fazendo um comentário que talvez seja o mais preconceituoso até ali:
- Poxa mas a NOME DA AMIGA deve ser um desastre, o cara teve que ser o homem e a mulher da relação! Depois de algum momento de silêncio dramático, as risadas voltaram, e os comentários seguiram por outra direção.
- Essa não é aquela sua amiga que tem bigode?
- Hahaha... ta explicado ela é que pedia, coitado do sujeito.
E a bárbarie continuou pro outro lado.

A conversa acabou de uma hora pra outra, perdendo para o comentário sobre o novo técnico da seleção. Pararam de maldizer a Branca de Neve de fim de semana, mas daí em diante foi o Dunga que começou a levar porrada.

Saí dali com algo que não me saiu da cabeça. Todas as Cross querem e merecem respeito, mas o primeiro respeito que precisamos conquistar são das nossas versões "sapos". Não são nossas versões delicadas de femininas que vão mudar a forma como a sociedade nos vê, são nossas opinões sem as máscaras, perucas e cílios postiços. Nossas versões Cross se expõem, falam verdades - escrevem Blogs (mea culpa), mas é como sapos, dentro dos núcleos sociais que convivemos é que podemos mostrar nossas idéias e interferir positivamente para a aceitação do diferente. Para quem tem dois lados, é importante entender que o nosso lado masculino deve proteger o lado feminino. Só nossos lados homens podem nos defender dos massacres cruéis do pensamento convencional, em "happy hours" onde coxinhas comem batata frita e detonam irresponsavelmente a forma como vivemos. Por isso, não se calem quando ouvirem um comentário preconceituoso sobre uma questão sobre transgêneros. Recusem a participar de conversar sobre esse assunto... e na medida do possível, mostrem aceitação! São os Sapos que devem se levantar, enfrentar a barbárie e salvar as princesas.









domingo, 6 de julho de 2014

CASA SUSANA

Hoje achei num post no "Face" uma matéria sobre a Casa Susana. Dei uma pesquisada mais aprofundada e descobri um achado! Uma casa dos anos 60 que aceitava homens nos fins de semana onde eles poderiam se expressar e se vestir como mulheres. Confiram a matéria que "deu no New York Times":


Parece um precursor dos apartamentos (cages) onde grupos de crossdressers se juntam para se montar e dividem as despesas do local. Mas era mais do que isso! Eram os Estados Unidos, nos anos 60! O padrão másculo heróico dos homens era bem definido, e mais do que isso, exigido. Época do "homem não chora", imagina passar batom e usar vestidos - lindos aliás. 

A Casa Susana não era só um clube de crossdressers. Era um refúgio para o lado feminino desses homens, que precisavam descansar esse lado delicado, tão maltratado durante os dias de trabalho. Um tipo de spa, onde os machões podiam mostrar seu lado delicado e feminino. 


as montagens eram impecáveis, não eram "homens num vestido"


odalisca oriental bem a vontade

parece que o vício por fotografia não é algo só das crossdressers de hoje!



eu morro de inveja "desses japoneses", sempre ficam ótimas!

não importa a época sempre tem uma cross que parece nossa tia