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segunda-feira, 27 de março de 2017

EU (TAMBÉM) SOU UMA MULHER!

Muita coisa mudou desde que comecei a sair nas ruas vestida como Jéssica. O mundo mudou e eu mudei. A própria experiência de sair em público com roupas de mulher já é transformadora. Toda Cross começa sozinha, na frente do espelho fazendo caras e bocas, vamos nos acostumando com aquela figura feminina, damos um nome, talvez tiramos algumas fotos e normalmente tudo acaba numa masturbação.

Tudo mudo quando decidimos sair em público como mulheres. Eu me lembro do primeiro dia em que saí de vestido, make e salto alto. Acabei de me aprontar ainda no carro, na época morava com meus pais. Saí do carro cheio de medo e excitação. Assim que ouvi o som do salto no asfalto e fechei a porta do carro soube que não havia mais volta. Os passos ainda cambaleantes em cima daqueles scarpins eram pequenos passos para uma cross... mas grandes passos na direção da minha feminilidade. Sabia que estava sendo vista, de certo modo, foi ali que passei a fazer parte do mundo.   Caminhei até um club GLS e fui recebida por duas Drags que me perguntaram meu nome. Aquela foi a primeira vez que me referia a mim mesma como Jéssica, primeira vez que me referi a mim no gênero feminino. Dentro da boate, conversei com algumas pessoas e passei a noite escutando: senhorita,  madame, gata... Talvez eu não tenha dado atenção para isso, por que experiência foi tão intensa que não percebi que ali nascia algo em mim que jamais poderia ter florescido sem essa minha exposição.

Não, Jessica! Isso está errado!
De lá pra cá, as saídas ficaram mais frequentes, me acostumei a ser vista como Jéssica, aprimorei minha maquiagem, melhorei meu andar de salto alto, passei a me depilar, transei com homens. Mas não percebi que o mais importante acontecia discretamente: me acostumei a me enxergar como mulher. Por muito tempo, me entendi como um homem que experimenta o mundo feminino. Mas não é verdade, Jessica existe, eu realmente sou Jéssica. Não tenho intenção de ser mulher 100% do meu tempo, por isso acho que não dei atenção para esse lado da minha personalidade. Entendia a Jessica como uma brincadeira, como uma fantasia, mas não é isso. Eu sou Jessica e mais do que isso, eu sou mulher. Jamais me permiti me referenciar a mim mesma como mulher. Já até publiquei um post em que afirmava "não somos mulheres". Mas como eu disse: o mundo mudou... e foi junto comigo.

Hoje a noite aconteceu algo que modificou de vez minha percepção. Hoje eu sonhei como Jessica, não com meu lado masculino de personalidade vivenciando uma experiência cross. No sonho era mulher e o mais importante é que a história do sonho não rodava em cima disso, mas minha identidade era feminina e as coisas aconteciam naturalmente. Isso mostra algo definitivo, minha percepção de eu também é feminina. Não acho que isso comprometa meu lado masculino, mas entendo aqui que sou mulher e homem. Como Jéssica posso experimentar e vivenciar esse lado. Foi de vestido que deixei meu lado mulher florescer sem medo. Hoje identifico que muitos comportamentos e formas de pensar do meu lado "homem" receberam grandes influências do meu lado mulher e vejo que tenho inúmeros hábitos mentais geralmente ligados apenas as mulheres. A leveza que sinto ao afirmar que sou mulher é difícil de ser colocada em palavras. Talvez seja algo que só se possa ser experimentado. Parece pouco, não estou nem de vestido, mas mesmo assim acesso a Jéssica e me sinto mulher.

Na minha opinião, todos temos lados masculinos e femininos, o crossdressing me permitiu estimular e expandir meu lado feminino. O resultado foi ótimo e hoje não tenho mais o menor receio ou medo de parecer ingênua ou iludida ao dizer: EU SOU MULHER. Não só quando me visto de Jessica, independente das roupas, meu lado feminino está desenvolvido e posso e vou usar os benefícios de ser uma mulher aqui dentro, convivendo com meu lado homem.


segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

Como evitar 3 momentos constrangedores que toda crossdresser já deve ter passado:

1 - Encontrar alguém conhecido cheio de peças de roupas femininas no braço numa fila de provador
Comprar roupas de mulher é um enorme prazer. Diria que as compras só perdem para o momento em que a gente se monta de verdade. Mas chegar em casa e descobrir que a peça não serve ou, simplesmente não cai bem, é mais frustrante do que descobrir que o cara que tava te paquerando só queria mesmo dicas de maquiagem! Por isso, depois de um tempo, toda crossdresser dá um jeito de experimentar as peças antes de ir pro caixa. Para evitar constragimentos nas lojas de departamento,  costumava pegar 3 peças de roupas masculinas e uma feminina - na verdade a única que me interessava. Ia ao provador masculino e ali provava a peça. O problema é que a maioria das lojas tem um mestre dos cabides que fica olhando as roupas que a gente leva ao gabinete. Geralmente eles tiram as peças femininas e guardam, imaginando que você não vai experimenta-las. Se você deu azar de cruzar com um desses, olhe ao redor respira fundo e quando ele pegar o vestido, você diz: -"também vou provar esse". Ele vai ficar sem graça, e te devolve a peça. Em lojas menores é mais difícil de rolar um encontro, mas se acontecer, vai ficar bem mais na cara. Se você quer mesmo se proteger de "micos" a minha sugestão é "Vá montada fazer compras!". Parece loucura, mas mesmo qe você seja uma cross discreta que não expõe seu lado mulher, ele é seu melhor escudo. Se a montagem for boa, ninguém vai te reconhecer e, o melhor, já fica claro na hora que você entra na loja: Sim, as roupas são para mim mesma!

não é exatamente o que quis dizer... mas, enfim!


2 - Alguém notar sombra de maquiagem nos nossos olhos no dia seguinte.
A balada foi ótimo, você demorou pra voltar mais do que planejava. Chegou em casa e aquele momento de desmanche começa... Morrendo de sono você corre, guarda tudo e de volta a sua identidade comum de menino, adormece feliz da vida. Dia seguinte, acorda atrasado e vai apressado pro trabalho. Aí alguém começa a te encarar e você lembra, putz... acho que devia ter caprichado na lavagem facial. O ideal mesmo é evitar esse tipo de mico, por isso eu conselho é, use os lencinhos umedecidos até você não ver nem um sinal de maquiagem neles. O lugar que dá mais bandeira são os olhos, por isso capricha na limpeza, mas cuidado para não irritar sua pele. As pálpebras são muito sensíveis, então vai com calma. Coloque um dedo por baixo do lencinho e com cuidado passe sobre a pele logo acima dos cílios, por que e ali que a sombra do lápis fica e dá bandeira no dia seguinte.  Passe lenços aberto em todo o rosto, no meu caso eu não uso base, uso reboque. Por isso é preciso muitos lenços para tirar tudo. Não economize! No dia seguinte, dê uma checada antes de sair de casa. Lave bem o rosto com água e sabão. Encha a mão de loção de barba e espalhe na sua pele. Isso vai ajudar a disfarçar no caso de ter ficado algum perfume de maquiagem. Bom, mas você não fez nada disse e aquele seu colega tá te encarando. A primeira pergunta é: que que cê fez no olho? Aí você se lembra da diva que encarnou no dia anterior e dá aquele desespero. Coloca a mão na cara, tampa os olhos e sai correndo pro banheiro! Olha a bandeira!!! O melhor a fazer é tentar manter a calma, coloque a mão fechada sobre um dos olhos - se o curioso mostrar qual é, melhor - e esfregue dizendo: "sabe que não sei, tá coçando pra Car***o (o palavrão Ogro ajuda a confundir). Você vai irritar o olho. Mas quando tirar a mão, o vermelho vai confundir um pouco. Dependendo da perspicácia do sujeito, não adianta. Mas acho que já me livrei dessas com esse truque.

des-maquiar-se é tão importante como maquiar-se


3 - Encontrar na balada super montadérrima alguém que não sabe de nada.
Estava no meio da pista descendo até o chão se equilibrando naquela super plataforma, mas na hora que levantou deu de cara com o Marcelo do almoxarifado! A pior saída, claro, é virar a cara e sair disfarçando. Se a pessoa achou que te reconheceu, aí ela terá certeza. Nada disso, comece lembrando onde você está. Eu só saio montada em lugares gays, se encontrei o coleguinha que eu não fazia idéia que estaria numa balada daquela ali, ele ficaria constrangido, também. Em suma, ele também deve! - Hahahaha - Então o melhor disfarce é abrir um sorriso como você jamais abriria e sair cruzando a direção do encontro. O principal é aja como você não costuma agir como homem. Encarne seu personagem, vire a mulher que você quer ser! Acredita em mim, esse vai ser seu melhor disfarce. Eu já passei por uma dessa encarei o gatinho e fui na direção dele. Só faltou ele pular num buraco, desviou o olhar, sorriu sem graça e se esquivou... Agora, repense sua montagem. Se você só coloca uma peruca, maquiagem leve e umas roupas discretas... talvez sua montagem não seja suficiente para te deixar incógnita. Por isso, e por muitos outros motivos! Exagere! Pra que virar mulher se é para ser uma mulher apagada, gata?

Acham que alguém que conhece o rapaz aí, perceberia que ele é essa gata?

Bem, mas a verdade é que ficar no armário pode ser uma delícia, dependendo das roupas que tem lá dentro, mas o ideal é se jogar. Já passou do tempo em que eu guardava muito segredo a respeito das minhas duas identidades. O ideal, gatas é conquistarmos o mundo e podermos ser quem somos de verdade. Mas enquanto nem todo mundo pode fazer isso. Espero ter ajudado algumas meninas.