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terça-feira, 27 de março de 2018

Fluidez de Gênero

Está cada vez mais difícil definir o que é transgêneros, o que é cisgênero, travesti, transexual, crossdresser, não binário, fluidez de gênero.... homem e mulher! Quanto mais definições mais complicado é achar uma caixinha pra gente chamar de nossa. Nunca me preocupei muito com isso,  sou feliz expressando meu lado feminino e isso sempre foi suficiente, mas desde que entendi que também sou mulher passei a me deparar com certas questões de natureza teórica, que não costumavam habitar o interior da minha peruca.

Não digo que SOU MULHER porque é uma frase de efeito! Mas se realmente é assim que me sinto, passei a sentir a necessidade de encontrar as explicações para esse sentimento dúbio, me sinto Mulher, mas não me sinto menos Homem. Já que sem deixar de ser homem jamais vou experimentar toda a gama de possibilidades que uma mulher cisgênero, ou uma mulher transgênero que chegou até o fim da transição, como posso afirmar que sou mesmo uma mulher? Faz alguns anos que sinto que Jessica é uma parte importante da minha identidade e intimamente sinto que aprendi a ser mulher. A idéia da fluidez de gênero casa totalmente com o que sinto. Sou homem a maior parte do tempo, mas sou um homem que deixa seu lado feminino aflorar, quando trabalha, quando está com seus amigos e até mesmo quando está com a família ou com o amor de sua vida. Claro que é quando me transformo e me monto que assumo uma figura feminina, que a Jéssica vem a tona com a liberdade capaz de deixar minha feminilidade extravasar e assumir o controle. Recentemente tenho conversado mais como Jessica, tenho feito amigos e amigas e nesses bate-papos vejo o pensamento de Jessica crescer e entender o mundo do olhar emoldurado pelos meus cílios postiços. Percebi que raciocino diferente como Jessica, notei que os diálogos são mais "redondos" a vezes mais divertidos e sempre mais doces. Diferente das falas "retas",  prática e muitas vezes sarcásticas dos diálogos mais duros que saem da minha boca sem batom. É verdade que a fala feminina escapa até mesmo quando estou desmontado, do mesmo modo que as falas masculinas escapam quando estou na minha identidade sapo.




Ao fim, concluo que a fluidez de gênero tem a a ver com libertar o outro gênero, às vezes pode decisão, às vezes por necessidade de expressão do outro lado, geralmente abafado na maioria das pessoas. Eu sou uma das muitas mulheres nascidas em um corpo masculino que pode desabrochar vez ou outra e vir a tona. Talvez outras personas femininas que nunca se formaram, a partir do lado feminino dos outros homens, poderiam ter tido a mesma chance se fossem regadas, cuidadas e estimuladas como a Jessica. Entendo que masculino e feminino estão em todos nós. Machos e Fêmeas tem essas duas tendências coexistindo e convivendo nas mais diferentes proporções. Muitas vezes reprimidos, mas sempre presentes. E se macho e fêmea é uma condição biológica e material,  homem e mulher é uma certa invenção social, com atribuições culturais ancestrais carregadas de conceitos que definem como a maioria das pessoas se vê. E é dentro dessa invenção é que geralmente achamos nossa identidade. Ninguém se entende Macho ou Fêmea como simples animais, nos atribuímos os conceitos culturais e, graças à Deus (sem gênero), é por isso mesmo que é tudo mutável e podemos fluir através desses gêneros livremente e aproveitar uma outra face durante uma mesma existência.





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